Mortes, números e audiências

Assistir aos noticiários ultimamente tem sido bastante tormentoso, especialmente quando se trata daqueles quadros que abordam o cotidiano das cidades, ou seja, quando são veinculados as notícias sobre a violência que vitima todas as áreas urbanas no Brasil atualmente. Como já se tornou folclórico afirmar: “se espremer a tela sai sangue”.
Por outro lado sempre me chamou a atenção determinados tratamentos que são dispensados à esse fato quando eles atingem setores mais abastados da sociedade. Ganham um grande espaço, com direito a detalhamento das tramas que levam às mortes, os assaltos e assassinatos, por exemplo, que atingem famílias ricas e tradicionais. Verdadeiras campanhas acometem o país inteiro quando um fato desses ocorre, com uma grande mobilização que atinge todos os principais canais de tv, rádio, jornais escritos e a internet. Um clamor geral e um sentimento de solidariedade é emulado na grande massa da população, motivando discussões no dia-a-dia, e os esses fatos acabam se colocando como referência para a análise da nossa própria vida real. Ou seja, a vida passa a enchergada a apartir das conclusões tiradas a cerca de fatos que nos são distantes.
Bom, não estou eu aqui para apregoar que problemas e episódios assim não devam merecer espaço em nossas preocupações ou que seriam de menor ou de irrisória importância, afinal todo ato de violência e todo o sofrimento humano deve nos preocupar e merecer nossa solidariedade e principalmente nosso esforço em superar essas realidades fatidicas em nome de um mundo melhor. Porém, isso deve ser efetivo e deve valer para todos os membros da sociedade... e aqui é que entra a minha grande preocupação com o tratamento que a imprensa dispensa a casos assim e a seus correlatos.
Essa argumentação torna-se compreensível, quando focamos nossa atenção para o tratamento dispensando para episódios de violência e de tragédia que acometem a outra banda da sociedade, ou seja, aquela mais pobre, miserável e muito mais numerosa. Nesses casos, os detalhes, as histórias de vida viram números (“morreram tantos em assalto”, “a tragédia atingiu tantas famílias”, “já somam tantos o número de mortes na ofensiva ao morro do alemão”). É isso mesmo, não há tanto clamor, a solidariedade não é mais emulada, isso sem falar em tratamentos que ou afirmam diretamente ou ensinuam serem todos os envolvidos bandidos, gente de pouca importância social, quando, na verdade, muitas dessas histórias “dariam um livro por dia, sobre art, honestidade e sacrifício”.
Se prestarmos bem atenção, vamos perceber que o problema é realmente o da cobertura midiática que é feita, afinal isso não vale somente para os fatos que acontecem por aqui. É só lembrar o tratamento dispensado as vítimas dos furacoes que atingem Cuba, à inundação que acometeu New Orleans, os mortos irraquianos na ofensiva americana e agora as mortes dos palestinos na ofensiva inaceitável dos israelenses sobre a faixa de gaza.
No noticiário, às vezes, temos a impressão que estão narrando uma espécie de jogo de vídeo game ou incidentes que envolvem outras espécies vivas e não seres humanos que possuem histórias de vida, famílias e problemas como todos nós.
Não tenhamos dúvida que esses “tratamentos” ajudam ou pioram o sentimento de solidariedade entre o restante da sociedade, nos afastam ou nos aproximam dos problemas e ajudam a explicar a importância que dispensamos para muitos desses problemas e por conseguinte, influencia na prioridade que políticos e o poder público dispensam no seu dia-a-dia aos mesmos, afinal, esses nossos representantes saem daqui do meio de nós (embuídos de um sentimento assim)e vão nos representar na vida pública.

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