É momento de “garantir a palavra”




A democracia, já dizia um dos grandes filósofos do século XX, Norberto Bobbio, é um valor universal, não se podendo dela prescindir e nem se pensar em substituí-la, mas sim em aprimorá-la e avançar apartir desse ponto. Do mesmo modo, assim como as sociedades avançaram nas suas conquistas e direitos, evoluindo dos direitos políticos, aos civis, aos sociais e finalmente aos chamados direitos difusos e coletivos, notadamente aqueles que dizem respeito a estabelecer e preservar padrões de qualidade de vida; da mesma forma, deve-se considerar a necessidade de se evoluir no conceito de democracia, importando, com isso, em agregar e contemplar mais e abrangentes direitos aos cidadãos.
Nesse sentido, falar-se em democracia, há muito tempo, especialmente nas sociedades mais desenvolvidas, deixou de significar a mera garantia de participação em pleitos eleitorais períodicos, por exemplo. Ou seja, democratizar, pressupõe liberdade e igualdade, vetores esses que, por sua vez, intercruzam e incluem vários aspectos da vida em sociedade. Pressupõe a necessidade de liberdade e igualdade, por exemplo, no acesso aos serviços públicos, à igualdade de gênero, à oportunidades, ao conhecimento e à informação, dentre outros aspectos.
Portanto, democracia é muito mais do que voto, é também poder opinar e decidir em outros momentos, que deverão ser oportunizados, mas é também ser tratado como um igual, com respeito, com dignidade humana. Por isso, tem razão Bobbio, é realmente um valor universal e imprescindível.
Diante de tudo isso, fica evidente que o Brasil ainda é uma das sociedades mais antidemocráticas do mundo e que, particularmente, no que diz respeito ao direito constitucional de garantia à livre informação, ainda caminhamos nossa via crucis em meio as trevas. Não há como haver igualdade e liberdade em meio a um sistema altamente concentrador, viciado politicamente e em que os veículos de comunicação são tratados, quase que unanimente, como meros meios de realização de interesses particulares.
O desafio que se coloca então a primeira Conferência Nacional de Comunicação é enorme e da mais alta relevância para o país. Assim, como democratização da política, dos serviços sociais, da propriedade terra e a garantia de igualdade de gênero, por exemplo, foram determinantes para o desenvolvimento de vários países no mundo inteiro, no mesmo nível de importância colocam-se esses desafios para o Brasil e, fundamentalmente, o de democratizar os meios de comunicação, pois somente com garantia de diversidade e igualdade de oportunidades, haveremos de ter uma sociedade mais igual, mais democrática e mais desenvolvida.

2 comentários:

Patrique Lima disse...

Fala Mestre! Parabéns, voltou a escrever... Sua opinião é sempre bem recebida na rede!

Abraço

Greice disse...

Um verdadeiro mestre e eu tive a honrar de sentar em uma cadeira de sua sala de aula. De fato a luz de Bobbio e diante desta contextualização podemos sim afirmar que o Brasil é um dos países mais antidemocráticos, diante de tantas evidentes desigualdades existentes por Estados a fora, estas originadas da ação política descompromissada com a sociedade e agindo apenas em interesse da elite desse país. A solução é a palavra é a ação do povo, a luta frente a corrupção.