Obama e as “pressões internas”

Poucos líderes e/ou presidentes americanos despertaram tanta esperança/expectativa, numa sociedade que possui preponderantes motivos para ser conservadora, como o é a americana.


Esse país, composto majoritariamente por uma classe média, em tese com um padrão de qualidade de vida razoável e contente por gozar de uma realidade econômico-social que lhes possibilita usufruir de um amplo leque de bens e serviços oferecidos contemporaneamente, é um agrupamento de pessoas que tendem a serem conservadoras. Alguns economistas e sociólogos costumam explicar esse fenômeno, argumentando que, sociedades que estão em processo de conquista de direitos e garantias básicas daquilo que é considerado um padrão satisfatório de qualidade de vida, tendem a serem progressistas, pois estão descontentes com sua atual situação e, ao revés, sociedades que já alcançaram um padrão de desenvolvimento, tendem a serem conservadoras, pois sua luta é para manterem o que já conquistaram e que não desejam verem ameaçadas e/ou tolhidas, esforçando-se por criar mecanismos que blindem suas conquistas.

Bom, talvez isso explique alguns “recuos” verificados ultimamente na postura política do presidente Obama, pelo menos se considerarmos as expectativas alimentadas e aquilo que se pode considerar a própria pauta política (histórica até) do partido a que pertence e que o elegeu presidente.

Não se verifica mais uma postura agressiva e decidida, quando nas negociações da cúpula de Copenhague - que irá dar continuidade aos debates sobre as ações para o enfrentamento das mudanças climáticas - no sentido de imprimir um ritmo forte nas ações voltadas para a diminuição de emissões de gases que compõe o efeito estufa, o que importa em crescentes constrangimentos econômicos e financeiros para os capitalistas americanos. O presidente americano, inclusive aliou-se aos chineses (que também são um dos maiores poluidores da terra e que não possuem interesses de sofrer qualquer restrição nesse momento). Esses gestos tem significado um duro choque de realidade para uma grande parcela da população mundial. Entre aquilo que se apregoa e aquilo que a política pode permitir (e nesse caso, o mercado de maneira mais determinante), configuram-se abismos que espalham um desanimador sentimento de frustração. Mais do que isso, pode parecer para alguns, que a política tem lá seus limites.

Por sua vez, também pode oferecer boas e didáticas lições, dentre as quais a que deixa claro que, muito mais do ganhar uma eleição, para se fazer mudança e conquistar efetivamente o poder, é preciso espalhar as vitórias em outros setores da sociedade. Ou seja, é preciso manter a mobilização, manter a guarda alta e espalhar os argumentos por todo o espaço ocupável, inclusive na seara do mercado.